Você está lendo Inside Tori's Brain…
Já faz um tempo que eu observo um traço um tanto quanto tóxico em mim, que é odiar que outras pessoas conheçam ou experimentem algo que eu “descobri” primeiro. E isso tem um motivo.
Desde que eu lembro eu sempre fui uma pessoa muito insegura comigo mesma, sempre me achei muito sem graça, muito fútil, muito rasa. Então quando eu recebia um pouco mais de afeto e amor que eu estava acostumada receber, eu ficava tão feliz que colocava na minha cabeça que para a pessoa que me amava continuar me amando eu precisava fazer valer a pena. Eu precisava mostrar a ela que eu era interessante e me amar não era uma perda de tempo, que eu também poderia agregar em algo na vida dela.
Isso resultou em um surto de tentar ter uma personalidade mais marcante. Comecei a escutar todos os tipos de artistas, comecei a adquirir mais conhecimento sobre diferentes áreas, li livros, vi filmes e tudo que você possa imaginar, achava que assim teriam um motivo para me amar. Até porque, quem não iria amar alguém que sabe de tudo, escuta de tudo, lê de tudo e pensa sobre tudo?
Esse surto me trouxe gostos que eu levo até hoje, o cantor Frank Ocean é o maior exemplo disso, quando descobri suas músicas ele se manteve no top 3 no meu Spotify por meses. E quando eu percebi que ele estava tornando uma parte da minha personalidade eu fiquei eufórica, finalmente tinha encontrado algo meu, algo que as pessoas iriam olhar e se lembrar de mim. Toda oportunidade que tinha eu falava dele, escrevia seu nome em cadernos; lousas; papéis; em resumo, fiz com que tudo sobre mim fosse relacionado a ele.
Até o dia que eu vi uma garota que era consideravelmente próxima de mim se tornar uma fã dele. Começou a republicar vídeos, colocar suas músicas nas notas do Instagram e quando eu vi, eu já não era mais a única a saber fatos sobre ele, e isso acabou me machucando um pouco. Comecei a me sentir fútil de novo.
E a partir disso eu comecei a ficar obcecada em coisas que apenas eu no meu ciclo de amigos fazia. Eu já não comentava mais sobre um jogo ou uma série que eu gostei por medo de se interessarem também e se tornarem mais interessantes que eu, e então as pessoas que eu considero — curiosamente pessoas mais velhas — iriam ver que eu já não era mais única e me trocariam.
Sempre que alguma amiga comentava sobre seu interesse em algum lugar que eu frequentava eu implorava mentalmente que ela nunca pisasse lá, porque eu sei que ela chamaria mais atenção que eu e iriam amar mais ela, iriam gostar mais da personalidade dela e me deixariam de lado. E isso me torna egoísta, sou egoísta por não querer que outras pessoas tenham experiências incríveis com pessoas incríveis por medo de ser trocada.
Isso acontece muito em misturar ciclos de amigos também, nunca me considerei engraçada ou boa em piadas, e de fato eu não sou. Então toda vez que cometia o erro de apresentar meus amigos aos meus outros amigos eu queria apenas chorar. Ver todos eles interagindo, rindo, ter que ouvir elogios como: “fulana é muito engraçada”, “ela parece ser tão legal”, “como ela é bonita!” Me faziam questionar se achavam o mesmo de mim, ou se tivessem que escolher entre eu ou minha amiga mais engraçada, quem eles escolheriam. Até que ponto eu era interessante para fazer alguém ficar? Sem ter que me entupir de informações para me sentir mais completa, ser apenas eu.
Às vezes eu sinto que se eu falar demais vou acabar mostrando o quão básica eu sou, então me mantenho calada e uso o sarcasmo em excesso como um mecanismo de defesa e consequentemente, parecer mais engraçada. Mas um dia alguém que considero muito me disse algo do tipo: “por que você sempre está com essa cara de deboche?” insinuando que eu era sarcástica ao ponto de gerar um incômodo. E isso me destruiu, principalmente por vir de alguém que eu considero tanto, logo veio o medo de acabar cansando a pessoa e ela me deixar. Então fiquei pensativa pelo resto do dia e desde então me forcei a parar com esse hábito.
“I looked at you and said, don't hate me…”
Worldstar Money, Joji
Então não, não quero que vocês conheçam a amiga incrível que eu vivo comentando sobre, não quero que você escute o meu artista favorito, não quero que você frequente o meu lugar de paz, não quero que você pratique o mesmo esporte que eu. Preciso que eles sejam minha exclusividade, algo meu.
Ei! Não vá antes de deixar seu comentário, o que achou do texto? :)
acho que muita pressão nos torna "egoístas" quando só queremos ser reconhecidos pelo que somos.
seu texto está muito bom e eu me identifiquei com ele.
obrigada por compartilhar 💗
aff eu te entendo tanto Tori, não sei lidar quando outra pessoa gosta do mesmo que eu. Mas oq mais me pegou nesse texto foi a menção as amizades, pq isso realmente aconteceu comigo. Eu tenho 3 grupos de amigos diferentes, e recentemente, ao passar desses 3 últimos anos, 2 deles viraram um só. E eu agora tenho que assistir as pessoas mais importantes pra mim se conectarem umas com as outras de uma forma que talvez elas nunca façam comigo. Eu ainda estou aqui, no grupo, e não posso dizer de forma nenhuma que elas são amigas ruins, mas eu consigo ver que a amizade delas é diferente. Elas se preferem.
Enfim, texto maravilhoso como sempre 💗